sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Aglaé fala sobre novo livro e a valorização da Cultura Popular

Aglaé D’Ávila Fontes, uma das mais importantes pesquisadoras de cultura popular de Sergipe, prepara seu 14º livro. Nesse seu novo trabalho, ela se debruça sobre as Caceteiras e a Chegança, dois grupos tradicionais do município de São Cristóvão, e mais uma vez busca, através do registro documental, guardar a memória do patrimônio imaterial do Estado.

Ao longo de todos esses anos de pesquisa, Aglaé já escreveu sobre praticamente todas as manifestações folclóricas de Sergipe, com destaque para o livro ‘Danças e Folguedos’. A pesquisadora nunca abandonou seus estudos sobre a cultura popular, paixão que divide com seu trabalho de gestora na área da cultura.

Atualmente, ela ocupa o cargo de secretária de Cultura de São Cristóvão e é membro do Conselho Estadual de Cultura. Nessa entrevista ao Sergipe Cultural, Aglaé dá detalhes sobre seu novo livro e fala sobre a cultura popular e a valorização da identidade do sergipano.

Sergipe Cultural - Fale um pouco sobre esse seu novo trabalho.

Aglaé Fontes - Estou me preparando para publicar um livro sobre a Caceteira e a Chegança de São Cristóvão e a figura do mestre Rindu. Esse novo trabalho é voltado para Educação Patrimonial pela vertente do Patrimônio Imaterial. Escolhi a figura do mestre Rindu, que é o chefe da Caceteira e da Chegança. Ao fazer esse trabalho, além dos dados do brincante, faço uma homenagem a ele por conta da sua importância para a cultura local e sergipana de modo geral.

Sergipe Cultural - Por que a escolha das Caceteiras e a Chegança?

Aglaé Fontes - Ninguém nunca publicou um trabalho voltado somente para a Catecetira. Não há nenhum registro sobre isso, e a minha ida para São Cristóvão me oportunizou ter um acesso muito fácil tanto à Caceteira quanto à Chegança, através do mestre Rindu. Há mais ou menos um ano que estou levantado os dados sobre a vida dele e sobre os grupos. Esse meu trabalho faz um levantamento histórico da presença dos grupos em São Cristóvão e do acervo poético deles. É um importante registro que pode se juntar à força da história de São Cristóvão para melhorar o perfil dessa cidade que tem uma praça como Patrimônio da Humanidade.

Sergipe Cultural – Na sua opinião, qual a importância da cultura popular para a formação das novas gerações? Qual a importância da escola nesse processo?

Aglaé Fontes - A escola deveria se preocupar em divulgar a nossa cultura e a literatura oral do nosso folclore.  Hoje elas trabalham muito com os clássicos, chamados contos de encantamento, e não trabalham esse outro lado, os contos populares. O manancial de contos populares que Silvio Romero resgatou não chega às escolas, por exemplo. Elas deveriam ter um olhar mais pensante sobre a cultura popular. Para que isso ocorra faltam duas coisas: informação e decisão política. É muito importante que os mais jovens tenham conhecimento da sua historia cultural e da sua cara. A gente tem que ter orgulho das coisas do nosso estado. E como eu posso ter orgulho da minha cultura, se eu desprezo a cultura popular?  

Sergipe Cultural – Como você vê esse universo da cultura popular em relação às novas tecnologias?

Aglaé Fontes - Me preocupo, porque estamos vivendo numa época digital com uma velocidade muito grande da informação e não aproveitamos isso para inserir a cultura popular.  Não adianta realizar um ou outro evento. Na verdade, eu tenho  mágoa da palavra evento, porque é ‘vento’, é passageiro. O que importa para a nova geração é aquilo que deixa semente, a semente está na ação da professora na escola, está no livro, está no registro. Fora isso tudo é ‘vento’. Não fica nada. Hoje em dia as crianças e os jovens não conhecem a própria cultura e os significados do nosso folclore. Reconheço, apesar de tudo, que já teve alguma melhora. A universidade, por exemplo, tem se preocupado em pesquisar sobre os diversos grupos. Mas ainda tem vários pontos que precisamos melhorar. As comunidades populares também estão perdendo essa essência, por conta do encantamento das tecnologias. Os netos e filhos dos brincantes já não querem mais tomar parte dos grupos. E isso é muito preocupante.

Sergipe Cultural – De onde vem essa sua paixão pelo folclore e pela cultura popular?

Aglaé Fontes – Para explicar isso eu tenho que voltar para um passado bem distante. Na fazenda do meu avô, o pai da minha mãe, sempre teve Reisado. Quando criança no interior eu tinha contato muito próximo com as festas populares. Minha mãe sempre teve um encantamento especial pelos grupos folclóricos e por isso desde cedo eu assistia às apresentações, eu gostava muito, tanto que minhas brincadeiras com meu irmão eram de Cacumbi e Chegança. Eram essas coisas que feriam nosso imaginário. Quando eu tive escola sempre valorizei a cultura popular. Quando comecei a fazer pesquisa não tive como fugir desse universo. A pesquisa e o registro documental é uma forma de eternizar nossa cultura e nossas raízes. Se nos distanciarmos da nossa cultura e perdermos nossa cara, teremos aonde procurar para saber como era.

(Texto: Carla Sousa, da Ascom/Secult)


 

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