sexta-feira, 30 de novembro de 2012

A lenda de Rita Cacete

Severiano Cardoso
1840-1907
 
A lenda de Rita Cacete foi publicada por Severiano Cardoso, no jornal “O Estado de Sergipe”, de 13/3/1904:
 
“É crença popular que no tempo da invasão dos holandeses uma pobre forasteira procurou alívio para suas infelicidades na plaga cristovense. Era, porém, vista entre os próprios colonos portugueses como bruxa ou feiticeira. Tendo uma filha, que era um primor de formosura, saía a esmolar para ela, pelos arredores, arrimada a um bordão, por quase já não poder andar.
 
Os garotos apupavam-na e enxotavam-na exclamando: daí-te daí, Rita Cacete, fazendo alusão à vara nedosa em que se agüentavam para andar. Ela refugiou-se para o lado das Pedrinhas, e, um dia, adoeceu sua linda e interessante filha. Apareceu-lhe a Mãe d’Água, e disse-lhe compungida do estado da jovem enferma: - Eu curarei tua filha! Anda comigo.
 
Andaram, e chegando à beira de uma emsombrada por uma árvore secular, a Mãe d’Água falou: - Imerge-a.
 
A velhinha obedeceu, e de repente a fonte cobriu-se de alvíssima fumaça. Depois do banho a moça ficou inteiramente curada e voltou-lhe a primitiva beleza em todo seu frescor primaveril. Descobriu-se então a virtude da fonte, aonde entre fumaça, hoje azulada, um bom gênio derrama sobre os que a procuram a benção da saúde.
OBS: a LENDA DE RITA CACETE foi lida por Silene Lazarito.

Fonte:Blog Coisas de São Cristovão

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Museu de Arte Sacra reabrirá em dezembro



Em reunião na manhã desta terça-feira, 6, Arquidiocese de Aracaju discutiu a gestão do Museu de Arte Sacra de São Cristóvão, em Sergipe, que está sendo restaurado e é considerado o museu de arte sacra mais importante do Brasil. 

Desde 10 de outubro, o museu encontra-se fechado, por conta da falta de verbas para cobrir despesas. A Secretaria Municipal de Cultura de São Cristóvão, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), a Secretaria de Estado da Cultura e a Secretaria de Estado do Turismo, além de representantes da Arquidiocese se reuniram em busca de medidas para a reativação do museu.

De acordo com o vice-presidente da Fundação de Arte Sacra de Sergipe, Padre Hernani Romero, a reunião com todos os órgãos do governo ajudou a definir a data de reabertura do museu. "Chegamos num consenso diante da problemática do nosso museu e a partir do próximo dia 4 de dezembro ele será reaberto ao público", disse.  Em reunião, assuntos sobre a administração, equipe de funcionários, segurança externa e interna serviram de pauta para discussões.

Para o Secretário de Estado do Turismo, Elber Batalha, a reunião foi bastante proveitosa. "A Setur veio com o objetivo de auxiliar nas soluções para o problema. Algumas ações ainda faltam ser resolvidas, mas estão em andamento. Nos preocupamos com um patrimônio como o Museu de Arte Sacra. É um museu reconhecido pela ONU, e de suma importância para o turismo em Sergipe. São Cristóvão é um dos principais destinos turísticos do nosso estado, e com certeza a reabertura desse museu irá fomentar o turismo sergipano", completou.

Já o Secretário de Cultura em exercício, Marcelo Rangel, salientou que o interesse na restauração do museu de São Cristóvão não é só do sergipano. "Essa é uma preocupação de todos os brasileiros, e estamos aqui nos somando à Arquidiocese em busca de soluções", disse.

Localização
O Museu de Arte Sacra de São Cristóvão foi fundado em abril de 1974, e fica localizado na Praça São Francisco, atualmente eleita como Patrimônio da Humanidade.

Fonte: Ascom SETUR   
Fotos: Arquivo Emsetur

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Aglaé fala sobre novo livro e a valorização da Cultura Popular

Aglaé D’Ávila Fontes, uma das mais importantes pesquisadoras de cultura popular de Sergipe, prepara seu 14º livro. Nesse seu novo trabalho, ela se debruça sobre as Caceteiras e a Chegança, dois grupos tradicionais do município de São Cristóvão, e mais uma vez busca, através do registro documental, guardar a memória do patrimônio imaterial do Estado.

Ao longo de todos esses anos de pesquisa, Aglaé já escreveu sobre praticamente todas as manifestações folclóricas de Sergipe, com destaque para o livro ‘Danças e Folguedos’. A pesquisadora nunca abandonou seus estudos sobre a cultura popular, paixão que divide com seu trabalho de gestora na área da cultura.

Atualmente, ela ocupa o cargo de secretária de Cultura de São Cristóvão e é membro do Conselho Estadual de Cultura. Nessa entrevista ao Sergipe Cultural, Aglaé dá detalhes sobre seu novo livro e fala sobre a cultura popular e a valorização da identidade do sergipano.

Sergipe Cultural - Fale um pouco sobre esse seu novo trabalho.

Aglaé Fontes - Estou me preparando para publicar um livro sobre a Caceteira e a Chegança de São Cristóvão e a figura do mestre Rindu. Esse novo trabalho é voltado para Educação Patrimonial pela vertente do Patrimônio Imaterial. Escolhi a figura do mestre Rindu, que é o chefe da Caceteira e da Chegança. Ao fazer esse trabalho, além dos dados do brincante, faço uma homenagem a ele por conta da sua importância para a cultura local e sergipana de modo geral.

Sergipe Cultural - Por que a escolha das Caceteiras e a Chegança?

Aglaé Fontes - Ninguém nunca publicou um trabalho voltado somente para a Catecetira. Não há nenhum registro sobre isso, e a minha ida para São Cristóvão me oportunizou ter um acesso muito fácil tanto à Caceteira quanto à Chegança, através do mestre Rindu. Há mais ou menos um ano que estou levantado os dados sobre a vida dele e sobre os grupos. Esse meu trabalho faz um levantamento histórico da presença dos grupos em São Cristóvão e do acervo poético deles. É um importante registro que pode se juntar à força da história de São Cristóvão para melhorar o perfil dessa cidade que tem uma praça como Patrimônio da Humanidade.

Sergipe Cultural – Na sua opinião, qual a importância da cultura popular para a formação das novas gerações? Qual a importância da escola nesse processo?

Aglaé Fontes - A escola deveria se preocupar em divulgar a nossa cultura e a literatura oral do nosso folclore.  Hoje elas trabalham muito com os clássicos, chamados contos de encantamento, e não trabalham esse outro lado, os contos populares. O manancial de contos populares que Silvio Romero resgatou não chega às escolas, por exemplo. Elas deveriam ter um olhar mais pensante sobre a cultura popular. Para que isso ocorra faltam duas coisas: informação e decisão política. É muito importante que os mais jovens tenham conhecimento da sua historia cultural e da sua cara. A gente tem que ter orgulho das coisas do nosso estado. E como eu posso ter orgulho da minha cultura, se eu desprezo a cultura popular?  

Sergipe Cultural – Como você vê esse universo da cultura popular em relação às novas tecnologias?

Aglaé Fontes - Me preocupo, porque estamos vivendo numa época digital com uma velocidade muito grande da informação e não aproveitamos isso para inserir a cultura popular.  Não adianta realizar um ou outro evento. Na verdade, eu tenho  mágoa da palavra evento, porque é ‘vento’, é passageiro. O que importa para a nova geração é aquilo que deixa semente, a semente está na ação da professora na escola, está no livro, está no registro. Fora isso tudo é ‘vento’. Não fica nada. Hoje em dia as crianças e os jovens não conhecem a própria cultura e os significados do nosso folclore. Reconheço, apesar de tudo, que já teve alguma melhora. A universidade, por exemplo, tem se preocupado em pesquisar sobre os diversos grupos. Mas ainda tem vários pontos que precisamos melhorar. As comunidades populares também estão perdendo essa essência, por conta do encantamento das tecnologias. Os netos e filhos dos brincantes já não querem mais tomar parte dos grupos. E isso é muito preocupante.

Sergipe Cultural – De onde vem essa sua paixão pelo folclore e pela cultura popular?

Aglaé Fontes – Para explicar isso eu tenho que voltar para um passado bem distante. Na fazenda do meu avô, o pai da minha mãe, sempre teve Reisado. Quando criança no interior eu tinha contato muito próximo com as festas populares. Minha mãe sempre teve um encantamento especial pelos grupos folclóricos e por isso desde cedo eu assistia às apresentações, eu gostava muito, tanto que minhas brincadeiras com meu irmão eram de Cacumbi e Chegança. Eram essas coisas que feriam nosso imaginário. Quando eu tive escola sempre valorizei a cultura popular. Quando comecei a fazer pesquisa não tive como fugir desse universo. A pesquisa e o registro documental é uma forma de eternizar nossa cultura e nossas raízes. Se nos distanciarmos da nossa cultura e perdermos nossa cara, teremos aonde procurar para saber como era.

(Texto: Carla Sousa, da Ascom/Secult)