Uma
das obras mais importantes para a segurança no abastecimento de água da
Grande Aracaju, a construção da barragem do Poxim, ajudou na descoberta
de cinco novos sítios arqueológicos em Sergipe. O trabalho de
prospecção, financiado pela Companhia de Saneamento de Sergipe (Deso) e
executado pela Contextos Arqueologia, revelou cerca de 3 mil peças e
fragmentos históricos e pré-históricos que revelam a presença humana na
área do povoado Timbó, São Cristóvão, em civilizações passadas. O estudo
foi realizado entre janeiro e março de 2013 com o acompanhamento do
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
Para
chegar aos resultados que demonstraram o grande potencial arqueológico
para Sergipe, a pesquisa contou com etapas iniciais de levantamento e
resgate emergencial, uma vez que a construção da barragem estava em
estágio avançado. Cinco sítios arqueológicos foram localizados na área
da barragem, sendo que um inundado (Sítio Goiabeira), dois parcialmente
inundados (Sítio Timbó e Sítio Araçá) e dois acima da cota máxima de
inundação (Sítio Juá e Sítio Aguiar), como aponta o relatório final
gerado a partir do Programa Emergencial de Preservação do Patrimônio
Arqueológico.
Entre
os sítios pré-históricos estão o Araçá e o Juá. No primeiro foi
identificado material lítico lascado (ferramentas de pedra), que pode
ter sido utilizado por civilizações antigas como ferramenta de corte. “A
matéria-prima utilizada nesse sítio é o sílex, oriundo de alguns
afloramentos de calcário. A indústria analisada possui grande
complexidade e traz novas interpretações para o povoamento pré-histórico
sergipano”, descreve a arqueóloga da Contextos, Fernanda Libório
Ribeiro Simões.
No
Sítio Juá foram localizadas peças de cerâmica indígena e material
lítico lascado. “Sua localização é considerada estratégica por estar no
topo de uma colina cercada por cursos d’água. Trata-se de uma aldeia
indígena anterior à chegada do Europeu”, revela a pesquisadora. O
vestígio de civilizações pré-históricas às margens do rio Poxim mostra
como o cotidiano e o desenvolvimento da humanidade sempre esteve
intrínseco ao ciclo da água – recurso indispensável à vida.
“É
dever da Deso colaborar no sentido de preservar o patrimônio cultural e
o meio ambiente. Então, além de cumprir o papel de garantir uma maior
segurança no abastecimento de água, por meio da construção da barragem
do Poxim, a empresa entendeu que esses trabalhos podem ampliar os
horizontes do conhecimento em Sergipe, e não só do ponto de vista da
prospecção arqueológica, como também do cuidado com a fauna e a flora
daquela área”, defende o diretor-presidente da Companhia, Antônio Sérgio
Ferrari Vargas.
Vestígios históricos
Nos
demais sítios, considerados históricos, estavam objetos do séc. XIX
(faiança fina brasileira e portuguesa, vidros, grés, cerâmicas
esmaltadas, ferro). No Timbó, por exemplo, havia grande quantidade de
bordas de formas de pão de açúcar, utilizado nos engenhos para a
fabricação do açúcar. “A função do sítio é a de um pequeno engenho,
associado, possivelmente, a um engenho maior na região (Engenho Poxim). A
documentação histórica indica que os engenhos da região do rio Poxim
Açu utilizavam a força motriz dos rios”, explica a arqueóloga.
Cada
pedacinho do chão investigado poderia revelar algum tesouro
arqueológico. Por isso as sondagens de verificação subsuperfície e
realização da prospecção superficial foram parte importante das
intervenções em campo. O esforço minucioso permitiu a equipe de pesquisa
também identificar algumas potencialidades no sítio Goiabeira, onde
havia um muro de arrimo de calcário associado ao século XIX. “Trata-se
de um antigo dique que acumulava água durante os regimes de cheia do rio
Poxim-açu”, cita Fernanda Libório.
Nele
foram coletados artefatos cerâmicos, ósseos faunísticos e materiais
construtivos. “Provavelmente associado ao funcionamento do Engenho
Poxim”. Já no Sítio Aguiar, o estudo sinalizou uma estrutura do início
do século XX, com obras de faiança fina brasileira e portuguesa,
porcelana. A interpretação realizada aponta para uma ruína de uma
residência.
Detalhes da pesquisa
Foram
percorridos 25,6 quilômetros de extensão durante a pesquisa, que
resultou em 262 sondagens. A equipe contou com quatro arqueólogos, além
de auxiliares. O objetivo foi inserir o rio Poxim-Açu dentro do quadro
arqueológico do estado. “Todo estado tem enorme potencial. No Cadastro
Nacional de Sítios Arqueológico [CNSA], é possível encontrar que a
maioria dos sítios pesquisados em Sergipe sãos cadastrados no município
de Canindé do São Francisco”, destaca Fernanda Libório.
Ela
aponta que, apesar da área da barragem ser pequena, o estudo mostrou a
importância de desenvolver pesquisas em todo o estado. “O que a Deso
fez, além de atender a legislação, demonstrou um compromisso de correr
atrás para promover um melhor estudo da área, vai beneficiar futuramente
pesquisas maiores”, considera a arqueóloga.
Compromisso legal
O
resgate do patrimônio arqueológico faz parte do processo de obtenção de
licenças ambientais necessárias para execução da obra. Segundo o
arqueólogo Ademir Ribeiro Júnior, da Superintendência de Sergipe do
IPHAN, um primeiro trabalho foi contratado pela Deso, em 2011, mas o
relatório gerado não foi considerado conclusivo. O segundo, executado
entre janeiro e março do ano passado, confirmou a existência de indícios
históricos e recebeu parecer positivo. “Havia muitos engenhos e também
poderiam ter sociedades pré-históricas, então esses indícios tantos
históricos como ambientais nos levaram a pedir o novo estudo”, explica.
A
Deso assumiu o compromisso de avaliar o impacto ambiental e o
componente do patrimônio cultural, financiando uma segunda prospecção
arqueológica que foi adequadamente executada pela Contextos Arqueologia.
Além do retorno de valor histórico, a descoberta estimulou a produção
acadêmica, rendendo três trabalhos de conclusão de curso e a elaboração
de artigos. “Estamos estudando organização da exposição das obras. Elas
têm que estar disponíveis para pesquisadores e público de modo geral: o
ideal é que fique acessível a todo mundo que quiser ver de perto. Então
nós vamos montar o projeto de exposição na casa do IPHAN, em São
Cristóvão”, informa Ademir.
Legendas e Créditos das fotos
1 – Análise das peças em laboratório (Pedro Almeida)
2 – Artefato lítico encontrado no Sítio Araçá (Fernanda Libório)
3 – Sítio Goiabeira (Fábio Teles)
4 - Diretor-presidente da Deso, Sérgio Ferrari (Jadilson Simões)
Fonte: Assessoria de Comunicação Companhia de Saneamento de Sergipe - Deso
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